Mais um feriado prolongado com recordes em acidentes me fez lembrar dessa figura tão detestada por todos que enfrentam o trânsito das grandes cidades: o motoqueiro.
Estatísticas mostram que, apesar de serem minoria, as motos estão envolvidas em trocentos por cento dos acidentes. Ter uma moto e morrer no trânsito é apenas uma questão de tempo.
Além do trânsito caótico, alguns membros desse clube do suicídio colaboram ativamente para a antipatia nutrida contra eles por boa parte dos motoristas.
O motoboy (stupidus duo orbita) faz de sua rotina diária uma aventura digna do Willie Coyote à caça do Papa Léguas. Afinal, esperar o que de alguém que utiliza um meio de transporte que só se mantém em pé quando está em movimento.
A Origem
O motoboy é resultado do acasalamento entre um proprietário de Chevette e uma vendedora das Casas Bahia. Desde pequeno ele demonstra interesse por atividades de cunho intelectual duvidoso, como parar motoserras entre as pernas e escalar torres de alta tensão.
Quando cresce um pouco mais, sua rotina escolar é seriamente afetada pelos atropelamentos que sofre ao ir para a escola de bicicleta.
Não adianta seus pais explicarem à exaustão os conceitos de distância segura de outros veículos. Ele acha que está sempre certo e pensa viver na Inglaterra, já que costuma trafegar pela esquerda.
A Primeira Moto
Assim que completa 16 anos, nosso easy rider começa a guardar o dinheiro que ganha como empacotador de supermercado para comprar sua máquina. Máquina de fazer pipoca, já que geralmente seu primeiro bólido só faz barulho.
Isso quando não está em algum depósito do Detran, já que ele não espera completar 18 anos para começar a pilotar.
Esse é outro ponto em comum dos membros da espécie, mesmo quando completam a maioridade, demoram para fazer a carteira de habilitação, já que o dinheiro vai todo na oficina mecânica e em remédios para manter-se em pé frente às quedas.
Nessa fase, ele imagina que gostosas de shortinho disputarão um lugar em sua garupa. Quando percebe que ainda faltam mais de 1000 cilindradas para isso acontecer, bate o desespero.
Ele então obriga a irmã a vestir-se de Mulher Melancia e sai desfilando com ela. Já notaram como é comum mulheres olhando feio para tudo e para todos do, vá lá, alto das motos? Pois é…
A Tele Entrega
Quando percebe que encher sacolas não vai levá-lo a lugar algum, decide dedicar-se à carreira que vai levá-lo ao cemitério.
Compra um baú, financia uma CG em 72 prestações e parte para o nobre ofício de infernizar a vida dos outros: motoboy.
O motoboy tem pressa, muita pressa. O povo tem fome e a pizza não pode esperar, ou não pode esperar pela pizza.
Nesse momento, ele esquece tudo que não aprendeu nas 8 vezes em que foi reprovado até conseguir a habilitação. Desloca-se entre os carros ignorando detalhes como espelho retrovisor e leis básicas da física, como aquela que diz ser impossível dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço.
Quando trafega em uma estrada, sua ânsia reprimida nos congestionamentos toma a força de um Jedi. Acelera o quanto a moto permite e cola na traseira de tudo que cruzar seu caminho.
Ultrapassa pela esquerda, pela direita e às vezes por baixo, o que geralmente causa uma secreta satisfação traduzida no sorriso dos motoristas que assistem à cena.
Mas o que mais deixa um motoboy satisfeito é trafegar naquele ponto exato em que nenhum retrovisor de nenhum carro à frente o visualiza, o ponto cego ou coisa parecida.
Nesse momento seu lado masoquista vem à tona, já que é comum serem deslocados em direção ao mato ou as rodas de uma carreta, o que estiver mais próximo.